O tratamento com donanemabe representa um dos avanços mais relevantes dos últimos anos na neurologia, especialmente para pacientes com Doença de Alzheimer em fase inicial. Pela primeira vez, uma terapia é capaz de agir diretamente sobre a fisiopatologia da doença, promovendo redução significativa das placas de beta-amiloide no cérebro — um marco que já havia sido observado nos estudos TRAILBLAZER-ALZ 1 e 2.
Mas, ao mesmo tempo em que o donanemabe mostrou eficácia, uma preocupação real também se tornou evidente: os ARIA, alterações relacionadas ao tratamento anti-amiloide identificadas em exames de imagem. Entre eles, o ARIA-E, que envolve edema cerebral, é o mais temido.
Por isso, o estudo TRAILBLAZER-ALZ 6 surgiu para responder uma pergunta extremamente importante para médicos, pacientes e familiares:
👉 É possível reduzir o risco de ARIA sem comprometer o efeito terapêutico do donanemabe?
E, de acordo com os resultados, a resposta é: sim.
A seguir, você verá uma explicação acolhedora, clara e estruturada sobre:
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O que o estudo TRAILBLAZER-ALZ 6 avaliou
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Como funciona o donanemabe
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O que são ARIA
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O que é a titulação (titration) do donanemabe
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Os principais resultados da pesquisa
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O impacto para pacientes e familiares
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O que esperar do futuro das terapias anti-amiloide
O que é o donanemabe e como ele funciona?
O donanemabe é um anticorpo monoclonal direcionado a uma forma modificada da proteína beta-amiloide chamada N3pG, presente principalmente em placas maduras. Isso significa que o donanemabe foi desenvolvido para:
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reconhecer placas já formadas,
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se ligar a elas,
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e facilitar a remoção pelo sistema imune.
Com esse mecanismo, estudos anteriores já demonstraram que o donanemabe:
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desacelera o declínio cognitivo,
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reduz o acúmulo de amiloide,
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diminui biomarcadores como p-tau,
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e promove estabilização clínica em comparação ao placebo.
Mas há um desafio: quanto mais rápida a remoção de amiloide, maior a chance de ocorrer ARIA. Por isso, o TRAILBLAZER-ALZ 6 investigou uma forma diferente de administrar o donanemabe — uma titulação mais lenta e gradual.
O que são ARIA e por que eles importam no tratamento com donanemabe?
Os ARIA (amyloid-related imaging abnormalities) são alterações detectadas em ressonância magnética relacionadas ao uso de medicamentos anti-amiloide, como o donanemabe. Há dois tipos principais:
✔ ARIA-E (Edema/Effusion)
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Inchaço cerebral
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Ocorre geralmente nos primeiros meses
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Pode ser assintomático ou causar sintomas como dor de cabeça, confusão, tontura
✔ ARIA-H (Hemorragias/Microhemorragias)
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Pequenos sangramentos
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Geralmente menos graves
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Podem coexistir com ARIA-E
Os ARIA não são exclusivos do donanemabe; eles também aparecem com outras terapias anti-amiloide. Porém, são o principal fator que limita dose, segurança e adesão.
Por isso, entender como reduzir ARIA é essencial para ampliar o acesso seguro ao tratamento com donanemabe.
O que é titulação (titration) no tratamento com donanemabe?
Titulação significa ajustar e aumentar a dose do donanemabe de forma gradual.
No esquema tradicional do donanemabe:
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700 mg nas primeiras 3 doses
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Depois 1400 mg mensal
No esquema de titulação modificada avaliado no TRAILBLAZER-ALZ 6:
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350 mg → 700 mg → 1050 mg → 1400 mg
A lógica é simples e extremamente importante:
👉 Começar com doses menores pode reduzir o risco de ARIA-E, tornando o donanemabe um tratamento ainda mais seguro.
TRAILBLAZER-ALZ 6: como o estudo avaliou o donanemabe
O TRAILBLAZER-ALZ 6 foi um ensaio clínico fase 3b, randomizado e duplo-cego, com 843 participantes com Alzheimer em fase inicial. Todos tinham presença comprovada de amiloide em PET.
Os participantes receberam diferentes regimes de donanemabe, e a análise mais relevante foi a comparação entre:
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Esquema padrão (dose plena mais rápida)
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Titulação modificada (dose crescente mais gradual)
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Resultados: o que o TRAILBLAZER-ALZ 6 descobriu sobre o donanemabe?
1. A titulação reduziu significativamente os ARIA-E
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24.2% dos pacientes com dose padrão tiveram ARIA-E
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15.6% dos pacientes com titulação modificada tiveram ARIA-E
Isso representa:
👉 Redução relativa de risco de 34.6%
👉 Com 87% de probabilidade de redução mínima de 20%
Ou seja: o donanemabe se torna mais seguro com titulação gradual.
2. ARIA-E graves foram eliminados
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0% no grupo de titulação
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Menor número de ARIA-E moderados
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Muito mais pacientes sem ARIA-E (84.4% vs 75.8%)
3. O donanemabe manteve a eficácia, mesmo com doses mais lentas
A redução do amiloide foi praticamente idêntica:
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–70.9 CL (titration)
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–72.1 CL (dose padrão)
👉 Ou seja, a titulação não compromete a eficácia do donanemabe.
Biomarcadores como p-tau e GFAP também apresentaram melhora semelhante.
4. ARIA-H não aumentou
As taxas foram quase iguais:
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27.5% (padrão)
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25.5% (titulação)
Houve ainda redução na siderose superficial cortical — potencial benefício vascular.
5. Macrohemorragias foram raríssimas
E ocorreram apenas nos primeiros seis meses, reforçando a necessidade de monitoramento inicial quando se utiliza donanemabe.
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O que esses achados significam para pacientes e familiares?
Para quem convive com Alzheimer, a possibilidade de desacelerar o avanço da doença com o donanemabe representa:
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mais tempo de autonomia,
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mais tempo de convivência com reconhecimento,
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mais qualidade de vida.
Mas os efeitos adversos geravam medo — e com razão.
Agora, o TRAILBLAZER-ALZ 6 mostra que:
👉 É possível usar o donanemabe de forma mais segura, com redução importante no risco de ARIA-E.
Isso traz:
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mais confiança para iniciar o tratamento,
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menos interrupções inesperadas,
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menos urgências médicas,
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mais tranquilidade para cuidadores e familiares.
E isso é especialmente relevante para pessoas com risco aumentado de ARIA, como portadores de APOE ε4.
O que o estudo muda na prática do neurologista?
O TRAILBLAZER-ALZ 6 deve influenciar diretamente os protocolos de prescrição do donanemabe, pois demonstra que:
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A titulação reduz ARIA sem reduzir eficácia
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O monitoramento intensivo nos primeiros seis meses continua essencial
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A segurança ampliada pode aumentar a elegibilidade de pacientes
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A abordagem gradual pode se tornar padrão global
Conclusão: o que o TRAILBLAZER-ALZ 6 nos ensina sobre o donanemabe?
O estudo trouxe evidências sólidas de que:
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A titulação do donanemabe reduz ARIA-E
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Os ARIA-E se tornam menos graves
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A eficácia do donanemabe permanece
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A segurança global melhora
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Os efeitos mais relevantes acontecem nos primeiros meses
Em resumo:
👉 Uma simples mudança na forma de administrar o donanemabe torna o tratamento mais seguro, acessível e confiável.
Para uma doença tão desafiadora, qualquer ganho em segurança tem impacto enorme.
E o donanemabe, com titulação adequada, representa um avanço real e emocionante na busca por tratamentos mais efetivos e menos arriscados.
Assista mais sobre o donanemabe
Assista ao meu vídeo no Instagram onde explico, em poucos minutos, o que o donanemabe representa para o tratamento do Alzheimer. É só clicar e conferir:
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